5.28.2012

Dois pares de asas contra os meus Trinta e Seis


E depois do falado, caem por Terra os sentimentos.

Haviam dois deles, com um par de asas cada, em lados opostos, com uma jovem dama ao centro. Eles se amavam, os extremos, e pareciam depender disso para respirar.


Me arrefeci em ciúmes e optei por deixar este caminho desempedido. Liberto-o, para que seus novos futuros amores possam persegui-lo como eu fiz. Mas, contando com as palavras do meu grande amante, Ernesto Cardenal "Pero a ti, no te amarán, como te amaba yo".

Fugaz, lembro-me de um HaiCai:

Para fugir da claridade, 
o Vagalume
se esconde na Lua.

Para onde fugirei eu?

5.23.2012

Dos amores fatídicos




Assim como Hades sequestrou Perséfone pela grandeza do seu amor, pretendo sequestrá-lo pra mim. Trazê-lo à parte do meu mundo, torná-lo algo que seja meu - incondicionalmente. 

Minha vontade de você é tamanha que chega comprime: Comprime meu coração, meus olhos, meu sexo e minhas imagens. Me faz subir vários lances de escadas - erradas - e pelo Destino encontro-o. 

Assusto-o, falo parte do que preciso e sinto seu cheiro. E que cheiro! Na mesma hora vi Leandro e Hero apaixonados a se jogarem de Abidos e Sestos por conta do amor um pelo outro. 

Conheço seu segredo e desconhecia minha necessidade de você até vê-lo sorrindo para mim. É obsessão, amor, paixão, insanidade emocional, carma... Não sei. Eu PRECISO de você. Preciso mais do que precisei de algum outro e não sei porquê. 

Tento chamar sua atenção mas ela é disputada, resolvo por deixar acontecer naturalmente. Insinuou-se que posso estar sufocando-o, não sei. No meu tempo, ou você resolvia a moça e oferecia um compromisso ou corria o risco de perdê-la para outro - o que não posso admitir. Mataria por, Morreria por. Falta-me o oxigênio, fico envergonhado quando o vejo, fujo, mantenho minhas conversas por meios virtuais não sei porquê. Me sinto um humano jovem novamente, temendo o amor e, me conhecendo, temendo expor seu segredo.

Hades não deu opção à Perséfone, eu estou dando a você. Vejamos o que escolhe.

O fato é que estranhamente, eu passo a querê-lo cada dia mais...


5.19.2012

Réquiem para Coisas Mortas


Porque estou defronte à inumanidades que me superam,
me deixam à sua mercê,
me colocam subjugado ao que sinto.
Porque amo ao que vejo, sinto.
Logo que exaspero, ressôo, alço vôo,
no encalço daquele que a mim despoja nojo.
Penso no que perdi e no que fiz para perder,
penso na matéria-bruta, no ouro.
Congelo, sabendo que meu sangue é de gelo.
Resfrio não só a mim como aos que envolto estão.

Choro perdido, partido, cansado.
Coloco-me à disposição da Morte que nunca me ouve.
Ou me ouve e chora comigo, já me dissera antes,
porque da mesma dor que sofro e padeço, ela já o fizera e se tornara o que é.
Não por concorrência, mas por sofreguidão não deseja o mesmo pra mim.
E eu a amo por isso. A amo por não dormir e me acompanhar durante toda a noite,
seja quente, morna, o frio eu não sinto mesmo.

Porque vivo num mundo de papelão e a uma velocidade que não compreendo.



Camafeu de Madrepérola - i


...
Acordei.

Notei que algo havia mudado, eu enxergava somente em preto e branco mas não me dei conta até o momento exato que abri as janelas de meu quarto.

Era uma quinta-feira comum, o despertador fizera seu trabalho e eu, até então, deveria me importar em manter o protocolo de banho-vestir-esquecer algo-sair-trabalhar. Geralmente ao acordar e deixar que a midríase[1] me enlouqueça, passo por situações vividas ainda nos sonhos. Ora sinto a espada ora sinto o calor nas mãos. Por vezes, enxergo sem enxergar - é cotidiano.

Nesta manhã em especial nada disso aconteceu. Permanecia enxergando em preto e branco mas ignorei. Levantei-me, segui à ducha, banhei-me e na hora de me arrumar, havia na cama um estranho objeto por sobre as minhas roupas. Era algo parecido com um camafeu de madrepérola, intensamente tonalizado ao dourado, algo que eu não tinha e que havia sido posto ali para que eu o visse. Tomei-o em mãos e abri. Vi-me a mim e mais alguém nele, uma bela dama, trajando roupas de meados do século XVI, cabelos louros presos no alto da cabeça, olhos claros que pela envelhecida da obra do camafeu não poderia distinguir cor. Espetacularmente, bela. E ao lado dela, eu.

Observei por tanto tempo o objeto que não me dei conta de que precisava continuar a me arrumar. Vesti minha calça, calcei minhas meias, sapato e então ouvi "- Tu não te recordas mesmo, não é, meu senhor?" - com a voz de uma mulher, bem atrás de mim, em meu quarto. Virei-me espantado, afinal os únicos que tem permissão de entrar em minha casa são Harpócrates e Vermelho, qualquer outra entidade precisa de permissão, por isso estou sempre seguro e mesmo assim, sinto seus cheiros quando estão por perto ou para aparecer. Simplesmente era ela, a dama do camafeu, vestida exatamente daquele jeito e olhando para mim com olhos tensos e suaves - ela tinha heterocromia, o olho esquerdo era verde e o direito azul - traço agora. Estava assentada em minha cadeira de madeira européia, pernas cruzadas e sua atenção dirigida exclusivamente a mim. Por sinal, aquela cadeira não era minha, deve ter surgido com ela, mas eu sabia que era minha em alguma época.

"- Ah, meu jovem senhor, não tema. Vim para dar-lhe um recado antigo que, ao notar o quanto se recorda de mim, receio ter também, esquecido-o. Enquanto éramos amantes, tivemos um filho. O doce Orpheo, lembra-te? Lembra-te também que o Nosso Senhor o quis logo cedo e o tomou de nós após aquele episódio febril que nem você pode controlar - o médico de maior prestígio do condado? Lembra-te ainda que prometera vingá-lo? É chegada a hora. Ele retornou e está com quem não deve, soube eu de alguns entes queridos e mesmo depois de todo este tempo, ele o quer como pai. Ouviu Daquela Senhora que nos visitava sempre à noite histórias a seu respeito. Ao que soube, ele ouviu as histórias somente da sua época de "Guerreiro", não contaram o porquê de ter abdicado."

Cada palavra dela me preenchia e queimava mais ainda meus olhos, comecei a enxergar mais em branco do que em preto, coisa que acontece somente quando estou de frente à uma entidade muito forte presencialmente. Instantaneamente eu a amei, novamente, e vi o momento do nosso primeiro encontro, dos nossos anos de namoro, noivados, casamento, a cópula, as promessas, o momento em que meu filho nascera e o momento em que eu o perdera. Lembro que foi esta a Terceira Vez que abdiquei e me tornei homem. As duas primeiras, uma fora contada. Não conseguia falar nada, apenas deixei que ela falasse.

"- Pois trata-se deste meu aviso, ele virá até você e o reconhecerá como pai. Mas não o pai que você foi e teria sido, mas como o pai que Ela contou que você deveria ser. Ele já virá marcado por Ela, com sangue aos olhos e desonrado. Ai de mim, mãe, vê-lo assim. Mas você, pai, sabe o que deve ser feito. Por ainda amá-lo não o deixaria desavisado, precisei do subterfúgio do camafeu para vir até você. Com a ajuda de seu nobre amigo Harpócrates, agradeça a ele por mim, depois. Onde estou agora é realmente bonito, graças a você. Tenho meus familiares comigo, compreendi diversas coisas, perdoei e nunca se esqueça de que nunca o culpei pelo que aconteceu. Faria tudo novamente e se há perdão aqui, eu devo pedí-lo pois fui fraca ao ver sua imponência e declinei. Se naquele momento eu soubesse já o que o senhor era, não teria temido e fugido. Portanto, perdoa-me".

Havia lágrimas em seus olhos e ela se levantou, veio em minha direção e beijou-me a boca. Não senti sua carne, apenas um frio e uma torrente de emoções. Ela pegou o camafeu de minhas mãos e automaticamente comecei a notar as cores novamente, menos nela, que permanecia quase em sépia. Naquele momento de introspecção ela se despediu de mim e partiu, deixando-me só, aspirando o aroma de verbena e alecrim que me era tão familiar. Sentei à beira da cama e comecei a refletir no que ela dissera. Meu filho, viria até mim, em busca de quê? De um pai somente? Porque Ela contou histórias sobre minha existencia? Éramos amigos porque tinhamos inimigos em comum.

Existe algo maior ai que preciso por em prática. Não falei com Harpócrates ou com Vermelho ou com meus irmãos, apenas terminei de me arrumar e sai para o trabalho: Estou no momento da minha Quarta Abdicação, ainda. Passei o dia com aquela sensação de que estava sendo seguido e de que meu corpo parecia estar querendo ser tomado, ignorei. Tomarei providências quando necessário for, por hora, apenas relato para que haja algo com o que trabalhar posteriormente.

É meu desejo continuar...

[1]Midríase - dilatação da pupila sob efeito da luz. 

Nuit - v



Eu vivo pela Noite,
Ela me persegue, me segue, me seduz.
Me encanta, me acalenta, 
Me torna escravo do que produz.



POEMA 20 - Pablo Neruda


Vinte poemas de amor e uma canção desesperada



Posso escrever os versos mais tristes esta noite
Escrever por exemplo:
A noite está fria e tiritam, azuis, os astros à distância
Gira o vento da noite pelo céu e canta
Posso escrever os versos mais tristes esta noite
Eu a quiz e por vezes ela também me quiz
Em noites como esta, apertei-a em meus braços
Beijei-a tantas vezes sob o céu infinito
Ela me quiz e as vezes eu também a queria
Como não ter amado seus grandes olhos fixos ?
Posso escrever os versos mais lindos esta noite
Pensar que não a tenho
Sentir que já a perdi
Ouvir a noite imensa mais profunda sem ela
E cai o verso na alma como orvalho no trigo
Que importa se não pode o meu amor guardá-la ?
A noite está estrelada e ela não está comigo
Isso é tudo
A distância alguém canta. A distância
Minha alma se exaspera por havê-la perdido
Para tê-la mais perto meu olhar a procura
Meu coração procura-a, ela não está comigo
A mesma noite faz brancas as mesmas árvores
Já não somos os mesmos que antes havíamos sido
Já não a quero, é certo
Porém quanto a queria !
A minha voz no vento ia tocar-lhe o ouvido
De outro. será de outro
Como antes de meus beijos
Sua voz, seu corpo claro, seus olhos infinitos
Já não a quero, é certo,
Porém talvez a queira
Ah ! é tão curto o amor, tão demorado o olvido
Porque em noites como esta
Eu a apertei em meus braços,
Minha alma se exaspera por havê-la perdido
Mesmo que seja a última esta dor que me causa
E estes versos os últimos que eu lhe tenha escrito.

Ao mestre.

Tenho pensado em você. 

Em você e nos outros, mais do que deveria. Como eu disse, uma mulher pode amar a vários homens porém quando um homem ama a várias mulheres ele se torna sujo. É como estou, sujo. Polígamo, emocionalmente. Penso em você e penso nos outros, na outra. Naquela que se fez passar por homem - Shakespearyano, assumo - para se aproximar, mas que desde o começo eu sabia quem era. Penso em Byron, Poe, Shaw, Chapman, Churchill. 

Penso no meu Legado, no meu nome, no que nada herdei ainda.

Penso agora nas jovens corujas que nunca alcançaram seu destino, ao entregar minhas mensagens de amor aos meus amantes, elas mesmas optavam pelo suicídio por considerarem profano o que eu fazia. Jovens corujas, sapos, serpentes, gaviões, lobos... Todos mortos. Todos me desprezavam e Todos queriam me proteger do que não pude ouví-los. Minha mãe alertou, meu pai precificou cada erro que cometi.

Nesta hora, não há paz. Mãe, Pai, servos, mensagens, lágrimas, exposição. Há uma incognição de alma e vontade de recriar. Usei de Neruda pois acabei de mandar isso por mensagem a um deles, poderia ter incluso Cardenal mas achei que seria dar muita razão ao amor que não se foi. No final escrevo mais por mim mesmo - e por meus egos. Olivia já me alertara que eu tão cedo morrerei de amores. Não por falta e sim por excesso.

Oeste, é para onde irei.


5.14.2012

Afogar: afogo-me esperando por um contato teu que nunca virá



Nunca virá mas eu continuarei esperando, não sei porquê, não sei de onde viria, não sei qual a tua intençao. Preciso de um 'olá', de um sorriso, de um aperto de mão. Antes que eu sufoque.



Angels Or Devils

"
This is the last time
that I'm ever gonna come here tonight
this is the last time - I will fall
into a place that fails us all - inside"

5.05.2012

Différence entre les démons et les anges


"L'amitié est une âme en deux corps." Aristoteles


O demonio veio a mim novamente, em forma de carinho e incompreensão. Tentou-me com sua elegancia e mostrou-me o quão bom pode ser uma nova vida. Deu-me paz e deu-me quietude, porém, deixou-me apoiado por sobre uma espada de gelo submarino.

Colocou-se invertido, como Odin o fizera, sem me dar escolha. Fez-me refém e eu, um pobre bebê, sem subterfúgios. Manteve minhas presas inocentes, até agora. Cantou-me, cheirou-me, fez-me, beijou-me, lambeu-me, excitou-me, tocou-me mas não bebeu de mim. Lux aeternan domine eis, et lux luceandis paerfatum factum absortis nuovo momentum improbis avaliaris rege fuco lirico amaterando amorem ipsi quotis.



Falar em línguas mortas me torna, tornava, especial. Nenhuma língua o afastou de mim. Nenhuma língua o trouxe a mim. Ele talvez seja ainda mais vento do que eu, que sou. O demonio o trouxera a mim mas não me tirara dele. Porque sou tão parecido com os anjos da morte, é o que me pergunto. Há algo no olhar, na minha criação, na minha ingenuidade ?
Neste momento o demonio está assentado em meu ombro destro, cochichando injúrias. O mesmo demonio que crescera comigo e que aprendera a vivenciar minhas próprias experiências. Porque os anjos não são mais como eram antes, quando eu os devorava ? Porque se tornaram fracos e depreciativos, enquanto evoluimos ? Porque eles não o tiram de mim ? Deixam-me como uma doença, um estigma, fazendo jus às palavras do santo "quanto mais próximo dos deuses estamos, mais tentados aos demonios ficamos". Fazendo jus às minhas próprias palavras irracionais.

Choro por tê-lo e choraria. Choro por que uma mulher pode amar a dois homens mas um homem nunca poderá amar a duas mulheres. Um demonio não ama, ele devora. Um anjo não ama, ele serve. O que houve naquele exato momento em que o vi ? Coloquei apenas um olho sobre a maciez da sua intenção ? Expus-me a outros anjos sem que nunca soubessem.

No mundo que criaram hoje não existem mais distinções, raças, castas, oásis. Talvez eu nem seja o que penso ser. Pode ser que agora, uma das minhas personalidades já nem mais exista. Eram Oito, a última descoberta recentemente mesmo que sempre andara latente, não havia nome para ela. Precisei perder uma para ganhar outra ?

Porque quando ando, ouço o Angelus ?

Porque simplesmente fechar os olhos é tão dificil ?

"A sombra da bondade esconde a lágrima,
dá um passo em direção ao encontrado.
Que a paz esteja repousando no berço de ninar.
A esperança se mantém, o caminho para o amor,
o caminho para a profunda liberdade."

5.02.2012

Eu só precisava contar...


O conto da Madame Serpente Branca é algo que me estimula a não amar, tomar a decisão como a Serpente Esmeralda fez sabendo que o amor pode ferir muito mais do que compensar. Optei. 
No exato caminho que me encontro, existem dois rumos: ambos em amar. O que os diverge? Amar um homem ou amar um homem, ser o demonio conhecido de um ou revelar o demonio desconhecido a outro? O que é mais importante: amar ou encantar? O que eu estou disposto a sacrificar se descobrir que for amor?

Desejo a Amitabha de Buddha porque preciso de reflexão.



O conto da Madame Cobra Branca - Bai Shu Zhen 



Havia certo feiticeiro na China antiga, um Monge (Fa Hai), conhecido por ser o protetor dos humanos, afastando espíritos maus, maldições e demônios deste mundo. Ele tinha todas as bênçãos de Buddha e com seu poder lutava de igual para igual com grandes forças ocultas. Havia também um humilde curandeiro (Xu Xian), preocupado em ajudar a todos e prestar os seus serviços da forma mais humana possível. Por fim, havia um demônio-fêmea muito antiga, chamada Serpente Branca (Bai Shu Zen), capaz de grandes feitos pelos seus milênios.

Acontece que este demônio, certo dia, encontrou o curandeiro às vistas e se apaixonou por ele com tamanha intensidade e presença que por diversas vezes o socorreu, incógnita, enquanto ele colhia flores e frutos pela floresta em busca da panaceia de seus pacientes. Ele nunca soube dela, ela sempre o seguia, mesmo aconselhada por sua irmã mais nova, a Serpente Esmeralda, e seus pequenos amigos. Um dia, ao colher uma certa espécie de flor à beira de um abismo, o curandeiro desequilibrou-se e caiu. A Serpente o salvou da morte com um beijo, ou ele se afogaria no lago que estava oculto ao abismo. Ali fora seu momento de glória e quando o curandeiro declarou-se apaixonado por ela, sem conhece-la de verdade por estar portando sua forma física humana.

O Monge, neste ínterim, continuava sua missão de derrotar e prender demônios, estando atrás dos famosos demônios-raposas, que infestavam a cidade com sua praga. Algo que, mutuamente, o curandeiro tentava solucionar sem saber se tratar de obras demoníacas.

O curandeiro e a Cobra se casaram, passaram a morar juntos e se amavam, mesmo com a mentira dela latente. Certo dia, o Monge a reconheceu enquanto caminhava pela cidade e o que sucedeu foi uma briga de proporções épicas, de igual para igual, em que o feiticeiro com a vantagem exigiu que a Cobra deixasse o reino dos homens. Ele era justo e reconheceu o amor dela, assegurando que seria uma situação delicada quando ele soubesse da verdade. Ela, logicamente influenciada pela obsessão, não deu ouvidos e permaneceu com o esposo, mesmo avisada. Ao encontrar o curandeiro, o Monge entregou-lhe a Adaga dos Espíritos, para sua proteção.

Os demônios-raposa ainda infestavam a cidade e sua maldição estava corrompendo o coração de todos os homens, enquanto o curandeiro nada podia fazer. Sua esposa, ciente de que se tratava de algo espiritual, cedeu parte de sua força vital à panaceia, para que surtisse efeito. E foi o que realmente aconteceu. Com a fraqueza dos raposas, o Monge conseguiu detê-los e portanto, passou a perseguir a Cobra. A encontrou na morada do curandeiro e recomeçaram a briga, não por maldade ou desapego do amor que eles sentiam um pelo outro, mas por que ela mentia, era um demônio e relações como esta nunca dão bons frutos. Era para proteção do curandeiro que ele lutava e mesmo assim a Cobra não entendia, exigia liberdade e era agressiva. No meio da luta, tomou novamente sua forma reptiliana, o curandeiro chegou em casa, viu a enorme Serpente Branca acuada, e, usando a adaga, a feriu. Ela não pode revidar já que o amava, apenas fugiu e esperou para encontrar a morte. Sua irmã Esmeralda a carregou e cuidou dela, mas não havia maneira de se recompor a perda pois já estava fraca por ter cedido parte de sua energia vital e por que a adaga era ainda mais velha do que ela.

O Monge então contou ao curandeiro que na verdade, sua esposa era a Cobra e que havia tomado a forma humana para poder amá-lo. O curandeiro estremeceu entre o medo e o amor, e o Monge deu seu trabalho como feito. Porém, um dos amigos menores da Cobra foi até o curandeiro com a esperança de que ele ainda pudesse ajuda-la e contou sobre a Raiz dos Demônios que serve de cura e alimento, e que se encontrava no Pagoda LeiFang – uma espécie de templo. O curandeiro, após ponderar no amor que tinha, cedeu ao risco e acompanhou o pequeno espírito até o templo.

Lá enfrentou diversos males à alma mas resgatou a Raiz, deu-a ao espírito para que a levasse à Cobra e esperou por sua visita. Porém, ao sair do Pagoda, foi tomado pelos demônios menores que ele libertou ao remover a Raiz do templo e acabou causando um enorme estrago, tendo sido necessário o Monge intervir. O prendeu e programou um feitiço de expulsão de demônios.

O espírito menor chegou à Cobra, deu-lhe a raiz e ela se recuperou, ouviu a história e considerou seu amor pelo curandeiro, indo ao seu resgate, imaginando que ele tinha sido condenado pelo Monge pelo crime que cometera para salvá-la.

Lá chegando, tentou invadir o templo, porém o Monge já imaginando havia colocado barreiras mágicas para que ela não entrasse. Com a ajuda da sua irmã Esmeralda, ambas na forma de Serpente, forçaram e tamanho poder era o da Branca que invocou uma enorme onda que inundou o templo e toda a área em volta. Tamanho poder e fúria irracional. O Monge batalhava, mas se via em desvantagem ao ter de cuidar dos outros monges, da cidade, do ritual de exorcismo e das Serpentes em tamanha briga.

Por fim, o templo se abriu e a Cobra trouxe seu amado pra si, antes do ritual ter se completado. Notou que havia algo de diferente nele: ele não se recordava de tê-la conhecido. Ela ignorou e batalhou contra o Monge, alegando que ele era o culpado da situação. Por fim, exauridos, ambos derrotados, ela se mantinha em vantagem pelo fogo que ardia do amor pelo curandeiro. O Monge, evocou sua ultima força e a derrotou, com a ajuda dos Mil Braços do Iluminado.

A Cobra, foi sentenciada a retornar ao seu mundo pelo Pagoda e de lá, pediu a Amithaba de Buddha – Sua misericórdia – e lhe foi cedido se despedir do seu grande amor. Ela saiu pelo LeiFang e chorou defronte ao seu amor, que ainda não se recordava dela. Chorou e prometeu que choraria pelos dois, pelo amor que eles perderam e que ele, somente ele, não se lembraria. Ao beijá-lo pelo amor verdadeiro, Buddha também concedeu a Amithaba ao curandeiro e ele se recordou. De tudo. Mas, já era tarde demais. A Cobra pagaria por sua intempestividade, fúria irascível, medo, crimes, mortes e pela negligência do seu próprio amor, presa no Pagoda durante toda a eternidade. O Monge, manteve seu trabalho mesmo não tendo outros grandes perigos ameaçadores. O curandeiro, permaneceu em torno do Pagoda, cuidando dos jardins, sabendo que seu grande amor estava lá, presa para sempre e sem poder mais estar em sua presença. 



Nota minha: Existem versões diferentes deste conto, alguns colocam Bai Shu como extrema vítima e Fa Hai como malvado, algumas invertem. A minha apenas priorizou o amor que Xu Xian sentia, o que há de mal em juntar humanos e demônios e como pode ser perigoso manter uma Tempestade no coração de um ser.